Obesidade e o sobrepeso infantil sempre foram assuntos recorrentes, no entanto, nos últimos anos esse problema vem se agravando pela mudança de comportamento das famílias. Os hábitos não se modificaram apenas nas mesas, mas na sociedade como um todo.
Com o aumento da violência e a explosão dos grandes centros urbanos, os hábitos sociais mudaram de acordo com a necessidade e comodidade das pessoas e as crianças que, antes, podiam brincar livres nas ruas ou imediações de suas casas, agora passam seu tempo livre nos seus quartos ou quintais reduzidos e, por conta disso, os brinquedos intimistas se proliferaram: games-boy, videogames, jogos, desenhos na TV e os shoppings.
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Com os pais tendo que sair para trabalhar e com tempo reduzido para confeccionar os cardápios ou sem condições de estar presentes durante as refeições das crianças, o famoso: “come logo, meu filho...” só é possível se for o que ele gosta.
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Sem dúvida, o que eles gostam não tem nada a ver com legumes e verduras, porém agüentar uma criança reclamar da comida ou se recusar a comer não é nada fácil. Mas, não é nada fácil o que a criança tem que agüentar, basta estar acima do peso para ganhar apelidos pejorativos como baleia, o gordo, balofo e fofão dos amigos da escola ou do clube. Todo mundo tira uma casquinha e o apelido vira referência.
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Com isso, a criança começa a se acanhar e passa a chamar a atenção para outros atributos que não o seu corpo, como excesso de humor, de crítica aos colegas e inteligência. Ela fica com vergonha de ir a praia ou ao clube, pois tem que se expor e se desmotiva com todos os exercícios em grupo com medo de ser ridicularizada. Nesse ponto, já existe um prejuízo considerável à auto-estima e comer pode ser um grande consolo.
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Queremos que nossos filhos sejam aceitos e respeitados por todos, mas nessas circunstâncias, precisamos ajudá-los. Não estamos aqui fazendo nenhuma campanha contra qualquer alimento, diversão ou estilo de vida, mas um apelo à qualidade de vida.
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Seguindo essa linha, comer em frente da TV é inadequado, pois as crianças precisam ver o que comem. Alimentos coloridos e bem arrumados no prato ajudam o cérebro à comer também, pois uma boa apresentação somada a uma mesa em ordem comove os sentidos e melhora o hábito alimenta. Os sanduíches podem ser reduzidos para uma vez por semana, os sucos ou água podem substituir os refrigerantes. Em alguns dias, pode-se comprar menos guloseimas e distribuí-las no mês o que não só alivia o bolso, mas o peso.
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Nos finais de semana convide seu filho para caminhar, andar de bicicleta, converse com ele durante o passeio, pergunte da escola e dos amigos ocupando uma parte da manhã ou tarde e libere o resto do dia para que ele faça o que quiser.
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Não chame seu filho de preguiçoso ou ¨mole¨ só porque ele diz não gostar de esportes, na verdade não é do esporte que ele não gosta, mas de estar exposto e ser ridicularizado. Basta conversar com ele nessas oportunidades e tentar incentivá-lo. Dependendo do que você escutar, leve-o ao médico endocrinologista e dê a ele a oportunidade de conversar com um psicólogo, pois esses profissionais são treinados para ajudá-lo.
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Amar o próprio corpo se aprende desde criança e a respeitá-lo também, mas isso só é possível com bons hábitos e exemplos.
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Por Silvana Martani (*)
(*) Silvana Martani é autora e organizadora do Livro Uma Viagem pela Puberdade e Adolescência, psicóloga formada pelo Instituto Unificado Paulista / Faculdade Objetivo 1978 – 1982. Atua na Clínica de Endocrinologia do Hospital Real Beneficência Portuguesa desde 1984. Ministra palestras aos pacientes obesos, com distúrbios glandulares e diabetes desde 1989, além de oferecer aulas aos residentes da Clínica de Endocrinologia do Hospital Beneficência Portuguesa.